5. A Teoria da Relatividade Geral

Uma forma de visualizarmos melhor a gravidade como a manifestação da curvatura do espaço-tempo é o modelo da cama elástica:

Neste modelo, o tecido da cama elástica representa duas dimensões espaciais do espaço-tempo. Na ausência de massa/energia, o espaço-tempo se mantém plano:

Porém, na presença de uma massa, o tecido se deforma, assim como a Terra deforma o espaço-tempo a sua volta:

Outros corpos que passem por essa região curva, então, terão suas trajetórias “desviadas” por ela:

Na verdade, esses corpos só estão seguindo o caminho mais reto para eles (uma geodésica no espaço-tempo), mas esse caminho é modificado pela própria curvatura do espaço-tempo!

Vale ressaltar, porém, que esse modelo possui algumas falhas: A primeira delas é só conseguir representar duas das quatro dimensões em que vivemos, dando a impressão de que não estamos totalmente envoltos nessas quatro dimensões. A imagem abaixo nos ajuda a visualizar melhor que, na verdade, a gravidade deforma o espaço-tempo em todas as direções a nossa volta:

Mas, mesmo assim, essa imagem também não contempla a deformação da dimensão temporal. É importante lembrar, como vimos anteriormente, que o tempo também é afetado pela gravitação. Afinal, quanto mais próximos estamos de um objeto massivo, mais devagar o tempo passa para nós!

Mas, afinal, onde a Teoria da Relatividade Geral é importante?

Uma forma de julgar quão importantes são as correções da Relatividade Geral a uma certa situação física é calculando a quantidade $\epsilon = GM/(Rc^2)$, onde $G$ é a constante gravitacional, $M$ é a massa característica do sistema, $R$ é seu tamanho característico e $c$ é a velocidade da luz no vácuo. Esse é um número (adimensional!) que, quando pequeno, indica que a descrição Newtoniana é adequada; e quando grande (próximo de 1), indica que as correções relativísticas são importantes.

Por exemplo, para um satélite em órbita ao redor da Terra, tomamos $M \approx 6 \times 10^{24}$ kg (massa da Terra) e $R \approx$ 42 mil km (raio da órbita), chegando a $\epsilon \approx 0.0000000001$. Esse número é extremamente pequeno, mas, como vimos, tem efeitos observáveis no funcionamento de instrumentos de precisão como o GPS.

Já no caso da órbita de Mercúrio em torno do Sol, podemos tomar $M \approx 2 \times 10^{30}$ kg (massa do Sol) e $R \approx$ 50 milhões de km (raio médio da órbita), chegando a $\epsilon \approx 0.00000003$. Esse número é maior que o anterior, mas ainda muito pequeno! Ainda assim, correções relativísticas na órbita de Mercúrio são observadas há mais de um século! Como bem vimos anteriormente, a órbita de Mercúrio apresenta uma precessão que antes não tinha explicação visível pelas leis newtonianas, mas que foi finalmente explicada pela Relatividade Geral!

Saindo do sistema solar, encontramos objetos mais "relativísticos": estrelas com a massa parecida com a do Sol, mas muito menores. Por exemplo, o raio de anãs brancas é $R \approx 7000$ km, e temos $\epsilon \approx 0.0002$. Para estrelas de nêutrons, com raio de cerca de 10 km e massa comparável à do Sol, $\epsilon \approx 0.2$!

Além destes, a Relatividade Geral prevê a existência de astros ainda mais compactos: os buracos negros, com $\epsilon \approx 0.5$! Esses objetos são tão densos que curvam o espaço-tempo ao seu redor de forma absurda. A astrônoma ganhadora do prêmio Nobel de Física de 2020, Andrea Ghez, define um buraco negro como:

Apesar da previsão da existência de buracos negros ter surgido poucos anos após a publicação da Teoria da Relatividade Geral, só recentemente foi possível fotografá-los. Para isso, foi preciso a união de diversos telescópios ao redor do globo que quando observavam juntos criavam um telescópio virtual do tamanho da Terra! A primeira foto (à esquerda), foi tirada em 2019 e capturou o buraco negro no centro da galáxia Messier 87. A segunda (à direita), foi tirada em 2022, e fotografou o Sagittarius A*, o buraco negro localizado no centro da nossa galáxia!

Como pudemos ver, a Relatividade Geral não só nos dá uma descrição mais precisa sobre a gravidade, como também é muito importante para explicar diversos fenômenos físicos que ocorrem no universo! Apesar da Teoria da Gravitação Universal de Newton ainda poder ser aplicada a muitas situações do dia a dia, é importante lembrar que ela é só uma aproximação que funciona para um certo número de casos, enquanto que a Teoria da Relatividade Geral explica um número de fenômenos muito mais amplo, o que a faz ser uma teoria para a gravidade muito mais completa!